Redações erram ao analisar dados de audiência e precisam ouvir mais os leitores, diz analista de mídia

Jornal ANJ Online 
17 Setembro 2019


Análises feitas com base em diferentes pesquisas indicam maior interesse dos britânicos por notícias relativas ao Brexit. Um dos dados da mais recente edição do Digital News Report do Instituto Reuters para o Estudo do Jornalismo, da Universidade de Oxford, entretanto, mostra que 71% procuram evitar a cobertura noticiosa da saída do Reino Unido da União Europeia (UE). A disparidade, diz Alexandra Borchardt, pesquisadora associada à Reuters, revela equívocos na interpretação das redações sobre os dados e sinaliza que as organizações de notícias precisam ouvir mais seus leitores e adotar com mais profundidade do chamado jornalismo de soluções.

“A ascensão da análise de dados fez com que os jornalistas e os seus editores confiassem em que sabem sobre o que as pessoas querem”, escreve Alexandra no site Project Syndicate. No entanto, segundo ela, se as redações estivessem mesmo oferecendo às pessoas aquilo que elas desejam, seria improvável que perto de um terço (32%) dos entrevistados que participaram do Digital News Report, afirmassem que evitam regularmente os noticiários, três pontos percentuais acima do índice encontrado há dois anos.

A pesquisadora destaca outros percentuais do relatório. A explicação mais comum para evitar os noticiários, referida por 58% das pessoas que o fazem, é que têm um efeito negativo sobre o seu humor, lembra Alexandra. Muitos também citaram um sentimento de impotência. Além disso, apenas 16% dos participantes aprovam o tom utilizado nas coberturas noticiosas, enquanto 39% o desaprovam. Os jovens, em especial, parecem fartos da angulação negativa, que por muito tempo foi considerada um modo seguro para atrair o público, diz a estudiosa. E apenas 29% dos entrevistados concordaram que os tópicos escolhidos pelas organizações de notícias “pareciam ser relevantes”.

“É aqui que entra o chamado jornalismo de soluções. Através do equilíbrio entre informações sobre o que precisa ser mudado e histórias sobre mudanças positivas, as organizações noticiosas podem cumprir a sua responsabilidade tanto de informar como de estimular o progresso”, diz Alexandra. Restabelecer a ligação com o público, continua a pesquisadora, também obrigará as organizações noticiosas a alargar as suas perspectivas.

“As organizações noticiosas que não procederem a estas alterações continuarão a perder confiança e relevância”, alerta Alexandra.

Este texto é uma resenha do artigo de Alexandra Borchardt publicado em 11 de setembro pelo Project Syndicate. Leia aqui a publicação original

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